22 de março de 2010

Vida na estrada

Muitas pessoas acham que a vida de um artista e sua equipe é cheia de glamour, mas na verdade não é bem assim.
Em épocas de turnê a vida se torna uma grande doideira. Horas e horas de luta contra o cansaço. Equipes e artistas, muitas vezes vão dormir já com o dia amanhecendo, e geralmente após o café da manhã dos hotéis, que normalmente é a melhor refeição que fazem, uma espécie de “janfé”, uma mistura de jantar com café.


Na maioria das vezes o artista e sua equipe tem seu tempo todo cronometrado. Hora para embarcar em aviões ou ônibus, hora para passagem de som, hora para fazer show, hora para sair do hotel e por ai vai... As únicas coisas que não tem hora certa, são as refeições. As vezes não dá tempo para almoçar ou jantar, assim a equipe se vê obrigada a comer qualquer coisa em qualquer lugar, e como passam muitas horas no local do show, acabam tendo que comer nos camarins, mas isso claro, se o contratante for gente boa e cumprir à risca as exigências do rider (essa é uma relação com as necessidades que o artista e sua equipe tem para realização de um show, o rider pode ser de equipamento técnico ou também de comida e bebida) que a produção do artista envia para a organização do evento, mas quando se trata de um artista popular a produção do mesmo corre sérios risco do rider não ser cumprido, as vezes o próprio local de apresentação é precario.


Os fins de semana de um artista que tem agenda cheia, costumam começar nas quartas ou quintas-feiras e o normal é mudarem de cidade a cada dia. As vezes nem conseguem dormir nos hotéis ou até mesmo saber como é cidade que estão, já que para conseguirem cumprir o cronograma de montagem e apresentação é necessário uma certa correria. Quantas vezes viajei pernoitada de um show para outro, tendo que dormir mal dentro dos aviões, que muito devem saber o quanto são desconfortáveis. Quando tínhamos que viajar em ônibus leito fretado para a banda era mais tranqüilo pois podíamos dormir um pouco melhor que nas viagens aéreas. Mas quando as cidades eram muito distantes umas das outras, ai não tinha jeito, só os aviões mesmo.


De ônibus, nós comíamos nos restaurantes de beira de estrada, e nesse caso torcíamos para que fossem bons. Para errar menos procurávamos parar naqueles que estavam mais cheios, geralmente churrascarias. Quando desembarcávamos de avião, pedíamos referências aos produtores locais. Claro que isso acontecia apenas em cidades desconhecidas.


As equipes em sua maioria preferem comer em lugares mais econômicos, já os artistas comem em lugares um pouco mais caros.


É quase impossível lembrar de todos os lugares que comi nestes anos de estrada, mas tem alguns que ficaram guardados na minha memória gustativa, só de lembrar o sabor da comida fico com água na boca.


Em Vitória (ES), era quase obrigatório comer no Bar e Restaurante Pirão, lá comi a melhor moqueca de badejo da minha vida, ela chega à mesa borbulhando dentro de uma panela de barro que fica apoiada num suporte de ferro (tipo um tripé) criado pelo pai do proprietário, por falar nisso, além de comer muito bem temos a possibilidade de conversar com o dono do restaurante, Sr Hercílio “Pirão”, um senhor muito simpático e cheio de história, que recebe as pessoas como se estivesse servindo um jantar para amigos em sua residência.


São Paulo, capital gastronômica do país, é difícil comer mal, até o famoso PF (prato feito) na esquina do hotel que ficávamos na Rua Augusta era bom. Não há nada melhor do que sair de um trabalho na madrugada e poder fazer uma refeição legal, em Sampa isso não é problema, cidade que pulsa 24 horas sem parar. Existe um restaurante já bem conhecido dos boêmios que se chama Sujinho, este tem sede em vários lugares da cidade e qualquer escolha do cardápio é muito bem feita, tudo é muito gostoso, mas seu carro forte é a bisteca, incrivelmente suculenta. 


Já no DF, mais especificamente em Brasília, existem restaurantes bons, mas encontrávamos problema com os horário, por exemplo, nas segundas ninguém conseguia comer depois de uma certa hora, por não ter restaurantes funcionando, aliás isso acontece em muitos lugares do Brasil, principalmente quando se tratava de interior, no Norte e Nordeste também tínhamos este problema.


E era assim que íamos levando a vida na estrada, driblando as dificuldades e aprendendo a se virar com o que tinha, foram bons momentos apesar das noites mal dormidas e das refeições mal feitas. Aprendi muito e me orgulho por esse pedaço da minha vida. Acho que agora a ideia do glamour vai mudar para alguns, na verdade é tudo uma grande ralação e muitas vezes até um pouco sacrificante.


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Bar e Restaurante Pirão
- Rua Joaquim Lírio, 753, Triângulo das Bermudas , Praia do Canto, Vitória (ES)
Telefone (27) 3227-1165.
Funcionamento:
De segunda a sexta das 11 às 16 horas e das 18 às 23 horas 
Sábados e domingos das 11 às 17 horas.


Sujinho
- Av. Ipiranga, 1058:
Todos os dias das 11h30 à 1h da madrugada
- Rua da Consolação, 2063 - 2068 - 2078
Todos os dias das 11h30 à 5h da madrugada

sujinho@sujinho.com.br



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