3 de fevereiro de 2010

Desafios amigáveis

Amigos são engraçados, eles nos testam o tempo todo. Testam nosso caráter no início da amizade, testam nossa lealdade, testam o quanto sentimos falta deles, o quanto os amamos, enfim testam tudo, mas mesmo assim continuam sendo nossos amigos.

Depois que comecei a estudar gastronomia, sinto que os testes aumentaram, como tenho muitos amigos, agora sou testada o tempo todo na cozinha, todos querem saber se realmente sei cozinhar e se minha comida é boa, não que isso me incomode, mas tem momentos que fico tensa.

Estou de férias no Rio e desde do dia que cheguei já foram solicitados vários almoços, se dependesse dos meus amigos eu não sairia mais da cozinha, só que consigo driblar um daqui e escapo de outro ali, senão não faço mais nada, mas claro que vou tentar fazer o máximo que puder. As vezes me pergunto se eles estão com saudades de mim mesmo.

Esta semana tive um teste bem tenso, estou hospedada na casa de uma grande amiga e o marido dela é louco por bacalhau, mais especificamente bacalhau a Zé do Pipo, daí ela que estava com o congelador cheio de lombos de bacalhau pediu para que eu fizesse o prato para o esposo. Como eu poderia negar? De jeito nenhum, e mesmo sem nunca ter feito resolvi encarar o desafio.

Primeiro procurar a receita ideal, sendo que para isso li umas 15 diferentes, daí fui vendo o que elas tinham em comum até chegar naquela que seria a escolhida. Antes bastava apenas uma ligação para minha mãe ou minha avó (esta já não tenho mais como recorrer), mas agora depois de entrar na faculdade tenho que aprender a escolher sozinha e continuei me dedicando. No dia que decidimos fazer o prato, fui no mercado comprar todos os ingredientes necessários com todo cuidado. Acho que a parte das compras serve como um ritual de concentração.

Quando entrei na cozinha liguei o som para diminuir a tensão e assim me entregar completamente aquele momento. E comecei o processo.

Conforme as etapas iam passando eu sentia que o momento mais difícil estava pra chegar, quando eles iriam comer, mas tudo bem, afinal tudo estava indo bem e eu havia avisado que nunca tinha feito aquele prato antes e que eles seriam minhas cobaias.

Minutos depois quando o prato saiu do forno e o coloquei na mesa onde todos aguardavam, comecei a suar frio, é engraçado, mesmo vc sabendo que fez tudo conforme manda o figurino existe um medo e uma insegurança de que alguma coisa não esta correta.

Tenho um problema, quando faço um prato sou a última a provar, só consigo comer depois que todos provam, porque assim vejo suas reações. E com o Bacalhau a Zé do Pipo não foi diferente. Não me preocupava muito com minha amiga, mas sim com seu marido, afinal ele era o responsável por toda minha tensão. E fiquei olhando pra ele fixamente enquanto ele levava o garfo até a boca, mas para meu desespero ele só deu o veredito depois da terceira garfada, e ufaaaaaaaaaa! Que alívio, tudo certo, ele aprovou e gostou tanto que repetiu 3 vezes.

São esses momentos que me fazem gostar de cozinhar cada vez mais, me dá prazer saber que as pessoas gostam do que faço, acho que é a maior recompensa.

Amigos obrigada por confiarem em mim.

Bon appétit!


 



Adaptação constatada

Sete meses se passaram após me mudar para Natal e vejo que me adaptei muito bem na vida nova, mas claro que sinto falta de muitas coisas que faziam parte do meu dia a dia na cidade maravilhosa. Alguns lugares, cheiros, visões, sabores, barulhos, amigos, diversões.

Ver a lagoa Rodrigo de Freitas ao sair do túnel Rebouças é lindo, o pôr do sol em Ipanema, o banho de mar na reserva do Recreio, pisar nas areias das praias do Rio é muito diferente de pisar nas praias do Rio Grande do Norte. Comer um cuscuz branco na praia, tomar mate leão com suco de limão (do tambor) e comer biscoito globo, vc só consegue no Rio. O som do funk que ronda a cidade, o samba do subúrbio, os ensaios das escolas de samba, as festas de música Black e reggae que só os cariocas sabem fazer.


Com tantas coisas legais achei que fosse chegar no Rio eufórica para fazer tudo e na verdade isso não aconteceu, cheguei devagar e com muita vontade de matar a saudade das pessoas que gosto, claro que ir a praia e outros lugares são programas legais, só que não tenho feito esforço para estar nos lugares, mas sim com as pessoas. Acho que o deslumbramento pelo Rio esta acabando, não que eu tenha deixado de gostar daqui, não é isso, mas já não me deixo levar pelas ofertas e sim pelas coisas mais concretas.

Estando aqui pude avaliar melhor minha vida nordestina e vejo que estou bem. Tenho uma vida tranqüila com muita qualidade, num lugar lindo e paradisíaco, onde se come maravilhosamente bem, não temos cuscuz e biscoito globo, mas temos caranguejos, camarões, lagostas, peixes, frutas incríveis. Praias praticamente desertas com água morna o ano todo, e além de tudo não existe o frio. O calor é abrandado com o vento constante.

Aprendi que na vida sempre fazemos substituições e quando aprendemos a dar valor a elas, ai sim vivemos muito melhor em qualquer lugar. Criei objetivos que antes não conseguia ter por precisar sobreviver na cidade maravilhosa, agora consigo dar início a um dos grandes sonhos de minha vida e quero ir até o fim, não serão as maravilhas do Rio que irão me tirar do foco.



Mudanças



Vida nova! As vezes ficamos com medo de mudanças, principalmente quando estas são de lugar, parece que dá um vazio no interior do corpo, um vácuo assustador. E tudo por não sabermos o que irá acontecer, por não saber como será está adaptação.

Foi muito difícil decidir sair do Rio e ir morar em Natal, até porque eu já havia residido na mesma por duas vezes e sabia exatamente quais seriam minhas dificuldades iniciais e não tinha a certeza se queria tentar novamente, mas a vontade de mudar de profissão falou mais alto, e decidi trocar a produção pela gastronomia e posso dizer, após 7 meses, que não me arrependo, estou adorando.

É um período de muitas descobertas, culinárias diferentes, técnicas diferentes e apuradas, sabores incrível.

Não há programa melhor do que um jantar com amigos, boa bebida e boa comida, além de horas de conversa, na minha humilde opinião é um dos melhores programas.

Uma vez ouvi uma professora da universidade dizer que a gastronomia aproxima as pessoas e cria laços, acho isso a mais pura verdade. Depois que entrei na universidade em Natal, conheci pessoas incríveis (claro que já conheci pessoas incríveis em outros lugares também, não é isso) e passamos muitas horas conversando sobre comida de uma forma muito construtiva sem ser cansativo. Pessoas com objetivos parecidos e outras com idéias completamente diferentes, mas com uma coisa em comum, a gastronomia. Todas trazem suas experiências e truques, uma verdadeira troca de feitiços.

Vida sem glúten

O número de pessoas que está descobrindo que não pode mais comer nada que contenha glúten é muito alto. Sabemos o quanto é difícil dei...